Constantemente associadas ao crime e à violência, as periferias comprovam que são locais de efervescência de muita cultura e criatividade. Mas a criminalização e a ridicularização da população periférica ainda são marcas da nossa sociedade preconceituosa.
Mas longe de fazer disso motivo de vitimização, as/os artistas da periferia transformam tudo isso em arte, mostrando o que é e quem é a periferia de fato, ou mesmo denunciando os diferentes tipos de violência (física, psicológica, cultural...).
Carol Magno fala de alguns estereótipos sobre a periferia e sobre como ela enfrenta isso:
“Eu bato pé para que essa periferia apareça nesses espaços, porque na minha formação enquanto cidadã e artista ela não aparecia. Esse lugar era apagado, marginalizado, invisibilizado e tinha toda uma característica muito negativa que fazia com que as pessoas que moravam no bairro fossem, em alguns casos, como já aconteceu comigo, humilhadas, hostilizadas, ridicularizadas. Hoje eu compreendo que quando eu faço esse levante, quando pego uma pessoa do meu bairro e digo que ela vai entrar no meu espetáculo, eu demarco um lugar. E ali começou uma trajetória para a minha vida inteira enquanto artista, de referendar essa periferia. Ao meu redor, a periferia era um lugar de chacota, mas para mim não. Para mim esse lugar tem essa importância por isso: ele fez eu me erguer enquanto artista.”
Manoel Fonseca fala sobre os discursos que criminalizam a população periférica e sobre a marginalização feita por quem deveria defender essas comunidades:
“Por muito que a gente se esforce, sempre vai ter um que diga que o bairro é um dos mais perigosos de Belém. E na verdade isso é uma coisa fictícia. No Barreiro, se você for procurar um marginal, você vai encontrar um artista, um músico, um malabarista, um professor, uma costureira, uma pessoa com boa mão para fazer comida, tudo isso. Se a gente for no Centro, os marginais podem passar do nosso lado, mas nem por isso a gente diz que Nazaré, Batista Campos e Umarizal sejam bairros marginalizados. No Barreiro, do nada o nosso pessoal é enquadrado, quebram o celular dos nossos moradores, dos nossos jovens. A nossa juventude é marginalizada cotidianamente, e é aquela ação institucionalizada. A gente não tem sossego. Se me perguntarem se eu tenho medo de morar no Barreiro e de quem você tem medo, eu tenho medo da Polícia. Eu não tenho medo dos moradores da comunidade.”