No dia 20 de julho de 1991, um grupo de amigos reuniu-se em Belém para ir em direção a Mosqueiro, na região metropolitana da capital paraense, levando arte, cultura e educação num ônibus histórico batizado de Margaridinha. Após 30 anos, nesse mesmo dia da amizade, a Rádio Margarida celebrou seu aniversário ao lado de uma parte dos seus inúmeros amigos, levando arte e educação para as ruas de Belém e para o mundo, através do seu canal no YouTube.

Assista à live de comemoração dos 30 anos da Rádio Margarida

A programação começou com o mesmo ônibus histórico, partindo da sede da ONG, com uma breve parada na frente da Estação das Docas e seguindo pelo Ver-o-Peso e por outras ruas de Belém. Na trupe, estavam arte-educadores com seus personagens que dão vida ao método de educação popular. São eles que traduzem nossas mensagens para a linguagem alegre, contagiante e transformadora da música, do teatro, do teatro de bonecos e do palhaço.

 

 

Por onde passavam, chamavam a atenção de adultos e crianças, com nossas mensagens em defesa dos direitos humanos, especialmente de crianças adolescentes e do meio ambiente.

 

Personagens e textos teatrais que fizeram história

De noite, a comemoração continuou com mais arte e defesa de direitos. A live show, comandada pelo palhaço Claustrofóbico, começou com a presença do boneco do Padre Bruno Sechi, grande defensor dos direitos de crianças e adolescentes que faleceu em 2020. Ele relembrou como a história do Movimento República de Emaús, fundado por ele, está entrelaçada à história da Rádio Margarida desde a sua fundação, uma vez que o ônibus Margaridinha havia pertencido ao movimento antes de ser adquirido por Osmar Pancera, fundador da Rádio.

Boneco do Pe. Bruno Sechi participa da live.
Osmar Pancera, fundador da Rádio Margarida, conta a história de como tudo começou.
Cantor Luciano Lira faz participação musical na live.
Cantor Renato Torres canta música “Sorriso”, do DVD Super ECA e seus clipes animados

Quem também esteve presente na live foi o boneco Vovô Osvaldinho e a bonecona Olímpia, que já participaram de diversas atividades da Rádio Margarida, além da Dona Árvore, o Passarinho e o Vilão do Meio Ambiente, personagens da peça sobre a defesa do meio ambiente que circulou por mais de 100 municípios do Pará pelo Programa Municípios Verdes.

Bonecona Olímpia, defensora dos povos tradicionais.
Personagens Dona Árvore e Passarinho

Outro texto teatral que também marcou a trajetória da ONG foi o do espetáculo “Domador e seus animais nada abestados”, que também utilizou o teatro de bonecos para falar de forma simples e lúdica sobre um dos temas mais trabalhados pela Rádio Margarida: o trabalho infantil.

Apresentação de uma parte do espetáculo “Domador e seus animais nada abestados”.

 

Uma história de muitos afetos

Para Eugênia Melo, cofundadora da Rádio Margarida, uma das principais mensagens que a ONG deixou com a realização dessa programação é o que move a instituição até hoje: o amor, o companheirismo e o respeito. “Nós já passamos por muitos ‘maus bocados’ ao longo da nossa história: falta de financiamento, patrocínio… Mas uma coisa é certa: todos estavam ali durante o aniversário voluntariamente fazendo com amor, com garra, com um sorriso. Nesses 30 anos temos trabalhado como uma família, as pessoas chegam, se agregam, participam”, comenta Eugênia.

Eugênia Melo e Carmen Chaves falam da sua história com a Rádio Margarida com o palhaço Claustrofóbico durante a live.

Ao longo desses 30 anos, foram inúmeros personagens que agregaram à equipe e levaram a mensagem da defesa dos direitos de crianças e adolescentes e do meio ambiente para o mundo. Um dos mais conhecidos é o herói criado pela Rádio Margarida chamado Super ECA, que participou da programação de aniversário e esteve presente em inúmeros conteúdos educativos e ações da ONG em Belém e no interior do Pará.

O arte-educador Charles Monteiro, que interpreta o Super ECA e outros personagens, fala sobre o que representa para ele fazer parte da equipe da Rádio Margarida. “Vai muito além de uma relação profissional. Porque nós temos essa relação que é profissional, de artista, mas para mim há muito tempo é como uma família mesmo, é uma relação de amizade”, comenta Charles, que já está há 25 anos atuando na ONG.

 Super ECA durante participação na live.

Charles conta que, além do carinho que tem pela equipe, o que mantém ele ligado a esse trabalho é o método aplicado pela ONG. “Desde o início, o tipo de trabalho da Rádio me encantou, porque é um trabalho diferente. O jeito que a Rádio faz arte-educação é um jeito que só a Rádio Margarida faz”, comenta. Ele também fala sobre como a Rádio Margarida foi importante para o seu crescimento profissional enquanto artista. “Aprendi muita coisa fazendo teatro na rua, nas periferias, nas comunidades, engrandeci o meu trabalho como ator e sei também que contribuí para o crescimento da Rádio com o meu trabalho”, acrescenta.


Uma história de resistência


Ao longo da programação de aniversário, uma das palavras que circulou nas falas de muitos participantes foi resistência. Eugênia Melo comenta que comemorar 30 anos foi um festejo, mas também um grande ato de resistência, porque são muitos desafios enfrentados. “Não é fácil estarmos trabalhando há 30 anos e não ter uma sede própria, não ter equipe fixa própria, porque não se tem nesse país respeito com a cultura e a educação”, explica.

A cofundadora da ONG também fala de toda a conjuntura atual que o Brasil vive e que não favorece em nada o trabalho de quem tenta fazer um trabalho como o da Rádio Margarida. “Ainda nesse país se viola muito os direitos de crianças e adolescentes. A gente vê esse governo federal tirando vários direitos, querendo acabar com o Conanda, com vários organismos de defesa dos direitos de crianças e adolescentes. Onde tem um Ministério da Mulher que não respeita a questão do Marajó, e acha que violência e exploração sexual é brincadeira. Então é resistir contra tudo e contra todos aqueles que vêm tentando acabar com as ONGs. É resistência sim, quando a gente está durante 2, 3 anos rodando o Pará inteiro falando sobre a questão do desmatamento, produção sustentável, e vem um ministro do meio ambiente dizer que tem que passar a boiada. Então nós temos que lutar e resistir, sim”, desabafa.

A atual coordenadora da Rádio Margarida, Nayara Lima, também falou durante a live sobre a resistência que toda a sociedade pode esperar da ONG para os próximos anos. “O que as pessoas podem esperar da Rádio é muita resistência, muita coragem, porque a gente está num período difícil, de retrocessos, em que lutar pela justiça social e pelo bem comum acaba sendo um ato de coragem. Por isso, podem esperar da Rádio muita coragem: vamos continuar falando de violência, ocupar esses espaços e ajudar na formação de pessoas”, finalizou.

Nayara Lima fala sobre o que esperar da Rádio Margarida nos próximos anos.

A programação da live de aniversário encerrou a noite com música, dança e toda a alegria daqueles que fazem parte da história da ONG. Muitas pessoas não puderam estar presencialmente em virtude da pandemia, mas estiveram unidos no parabéns e no desejo de vida longa ao trabalho da Rádio Margarida.

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